Recentemente, uma nova coleção de documentos sobre o assassinato do presidente americano John F. Kennedy foi revelada, lançando luz sobre as conexões entre o Brasil e a Guerra Fria. A liberação desses arquivos fornece detalhes das investigações realizadas pela CIA e por outros órgãos governamentais dos EUA, que tinham como objetivo conter a influência comunista na América Latina entre 1947 e 1989.
Com mais de 2.000 novos arquivos disponíveis, há a expectativa de que outros 80 mil sejam tornados públicos em breve. Uma das revelações mais intrigantes envolve a vigilância que o governo americano mantinha sobre políticos brasileiros em um período crítico da história do Brasil. O ex-governador Leonel Brizola, uma importante figura da esquerda brasileira na época, é mencionado nos documentos como alguém que recebeu propostas de ajuda de regimes comunistas de Cuba e China durante suas iniciativas relacionadas à sucessão presidencial após a renúncia de Jânio Quadros em 1961.
Os documentos indicam que o Partido Comunista Chinês, sob a liderança de Mao Tse-tung, e o regime cubano de Fidel Castro ofereceram apoio material e voluntários a Brizola. No entanto, ele decidiu recusar essas propostas, temendo que a aceitação pudesse prejudicar as relações do Brasil com os Estados Unidos. Uma fonte não identificada da CIA comentou que "Brizola claramente temia que aceitar essas ofertas poderia levar a uma intervenção americana".
A renúncia de Jânio Quadros abriu caminho para a presidência de João Goulart, que seria deposto em um golpe militar em 1964. Documentos da CIA daquele ano apontam que Cuba estava intensificando suas ações subversivas no Brasil, oferecendo apoio financeiro e logístico a grupos comunistas. Investigadores afirmaram que Havana atuava principalmente por meio de sua missão diplomática no Rio de Janeiro e colaborava com movimentos camponeses no Nordeste.
Além disso, um dos documentos indica que Cuba usou o Brasil como um ponto estratégico para disseminar suas ideologias e como local de passagem para militantes latino-americanos treinados em seu território. Embora os arquivos enfatizem a estratégia cubana de expansão na América Latina, eles também destacam que o golpe militar representou um revés significativo para Havana, que enfrentava desafios internos e externos que exigiam uma pausa em suas atividades subversivas.
Durante esse período tumultuado, os Estados Unidos monitoravam de perto os eventos políticos na América Latina. Em 1963, ano do assassinato de JFK, os EUA já estavam envolvidos na Guerra do Vietnã e lidando com as tensões decorrentes da Revolução Cubana, ocorrida quatro anos antes. O ambiente político no Brasil era caracterizado por uma crescente instabilidade, acentuada pela inflação alta e pelo fortalecimento de movimentos sociais.
Gravações divulgadas em 2014 mostraram que, semanas antes de seu assassinato, Kennedy questionou a viabilidade de uma intervenção militar para depor Goulart. Contudo, essa ação se tornou desnecessária com o apoio diplomático dos EUA à derrubada do governo Goulart, que resultou na instalação de uma ditadura militar que durou duas décadas.
O assassinato de JFK continua a ser envolto em uma série de teorias da conspiração envolvendo agências como a CIA e o FBI. Após sua morte, uma comissão formada pelo então presidente Lyndon Johnson concluiu que Lee Harvey Oswald foi o único responsável pelo crime. Entretanto, um inquérito da Câmara dos Representantes em 1979 sugere que ele não atuou sozinho, embora sem apontar diretamente outros possíveis envolvidos.
Os novos documentos não apenas esclarecem eventos cruciais da Guerra Fria, mas também ressaltam as complexas interações políticas entre os EUA e o Brasil em um período marcado por ideologias conflitantes.
Fonte: BNT