A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) realizou, em fevereiro, a primeira visita à Terra Indígena Faxinal, em Cândido de Abreu, para apresentar o projeto de extensão inédito “Formação continuada de docentes indígenas: a Universidade em articulação com a educação escolar indígena”. A iniciativa integra o programa Universidade Sem Fronteiras, da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), e está vinculada ao Departamento de Estudos da Linguagem (Deel) e ao Programa de Extensão Laboratório de Estudos do Texto (LET).
O principal objetivo da ação é auxiliar os docentes indígenas do Colégio Estadual Indígena Sergio Krigrivaja Lucas na organização de seus planejamentos e materiais para as aulas de língua Kaingang. Além disso, busca colaborar para o registro dos conhecimentos e cosmovisões relacionados ao idioma e às visões ancestrais de mundo.
Para cumprir essa meta, a equipe coordenada pela professora Ligia Paula Couto, do Deel, é composta por duas bolsistas egressas, três bolsistas de graduação, duas bolsistas voluntárias e duas acadêmicas da etnia Kaingang.
Segundo a professora Ligia, o projeto nasceu de uma demanda encaminhada ao Coletivo de Estudos e Ações Indígenas da UEPG em anos anteriores, por meio de pesquisas feitas de 2023 a 2024 com uma docente indígena do Ensino Médio. “Ou seja, ela já nos alertava para a necessidade de formação de profissionais da educação e elaboração de materiais para o ensino de língua Kaingang”, explica a coordenadora.
Execução em etapas
A execução da iniciativa ocorre em três fases. Na primeira, os integrantes da equipe foram à escola do Faxinal para ouvir as necessidades e colher sugestões dos educadores de língua Kaingang (da educação infantil ao Ensino Fundamental I) e da pedagoga da instituição, buscando entender as demandas de planejamento e materiais.
Nesta segunda etapa, está sendo realizada a divisão de tarefas para a produção dos recursos didáticos para o ensino da língua Kaingang na educação infantil e no Ensino Fundamental I. Esse processo respeita “a autonomia e o saber indígena, adquiridos da experiência de trabalhos anteriores junto ao Coletivo de Estudo de Ações Indígenas”, detalha Ligia Couto.
Por fim, na terceira fase, ocorrerá a produção dos materiais propriamente ditos e a formação junto aos docentes. Todo o processo será coletivo, dando protagonismo durante a elaboração e aplicação dos recursos, aos educadores que atuam na escola. “Este trabalho prevê um processo de formação contínua com os(as) professores(as) indígenas em seu território, para que sejam realizadas adequações e testes até que se obtenha o resultado final, sempre contando com a autoria e aprovação desses(as) profissionais”, completa a coordenadora.
Futuramente, educadores de outras instituições de ensino também poderão ser beneficiados com o trabalho desenvolvido no Colégio Sergio Krigrivaja Lucas, pois o material será disponibilizado em um banco de atividades. “Acreditamos que, com a realização desta ação, a universidade promoverá uma troca efetiva de saberes plurais entre o mundo indígena e a área de Letras. Isso possibilitará aos estudantes e egressos envolvidos, uma formação voltada para a educação escolar e para a obrigatoriedade do ensino bilíngue nas escolas indígenas”.
Sobre a Terra Indígena de Faxinal
Localizada em Cândido de Abreu, na região central do Paraná, a Terra Indígena Faxinal é um território do povo Kaingang homologado em 1998. Vivem ali cerca de 970 pessoas, em uma área de aproximadamente dois mil hectares pertencente ao município, que ocupa a 374ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) entre as 399 cidades paranaenses.
Os projetos de extensão da UEPG apoiados pela Seti visam atender justamente os municípios paranaenses com os menores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).
Texto: Helton Costa | Fotos: Reprodução
Divulgação/UEPG