quinta-feira, junho 5, 2025
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SEIS ANOS SEM RESPOSTAS: Assassinato de médico em Castro permanece sem julgamento e sem mandante identificado.


Emerson Teixeira

Castro, uma cidade marcada por uma ferida que o tempo insiste em não cicatrizar. Seis longos anos se passaram desde a noite fria de 6 de junho de 2019, quando o respeitado médico Luiz Felipe Fiorillo, aos 66 anos, foi brutalmente assassinado. Ele foi alvejado pelas costas, sem chance de defesa, ao sair de seu consultório na rua principal da cidade para jantar. Uma execução covarde que chocou a comunidade e deu início a uma busca por justiça que, até hoje, se depara com um muro de silêncio e morosidade.

A morte, confirmada no dia seguinte em um hospital de Ponta Grossa, deixou não apenas uma família devastada, mas uma cidade órfã de um profissional dedicado que por mais de quatro décadas cuidou de gerações de castrenses. “Foram 40, mais de 40 anos, 42 anos de uma boa medicina bem exercida”, relembra, com a voz embargada, o filho Frederico Fiorillo, também médico. “Só escuto até hoje agradecimentos, mas o que me choca é a morosidade da justiça criminal.”

Suspeito de ser o atirador chegou a ser preso, mas responde em liberdade

 

Em 2020, uma luz parecia surgir no fim do túnel. A Polícia Civil prendeu um suspeito em Curitiba, realizando buscas. No entanto, a esperança logo se transformou em frustração. Hoje, em 2025, esse mesmo suspeito aguarda o julgamento em liberdade. E o mandante, a mente por trás da ordem para matar, jamais foi identificado.

A lentidão do sistema judiciário também gera angústia. “O executor está em liberdade aguardando julgamento. Ele é da região metropolitana de Curitiba. O processo contra ele ainda não terminou”, lamenta o advogado. A situação se torna ainda mais desoladora com a primeira audiência de instrução e julgamento marcada apenas para julho de 2026. “Um absurdo e uma tristeza ainda maiores para a família. A justiça de Castro alega que não tem data mais próxima para a audiência”, revela Goes Junior.

As investigações apontam que o carro do suspeito, um Volkswagen Fusca segundo testemunhas, foi flagrado vindo de Curitiba para Castro naquela noite fatídica, passando pelos pedágios. No entanto, o executor, segundo o advogado, “não conseguiu justificar o que estava fazendo em Castro e nem o porquê de seu carro ter vindo de Curitiba naquela noite. Ele não entrega como foram os fatos nem revela o mandante. Nitidamente havia um mandante e ele era o ‘mero executor’ da ordem.”

Veículo utilizado pelo assassino

 

A falta de continuidade nas investigações, marcada pela constante troca de delegados em Castro, é apontada como um fator crucial para a falta de progresso. “Isso é um dos problemas. Mudou muito de delegado nos últimos anos. Alguns deram mais atenção, outros nem chegaram a agir”, pondera o advogado. A liberdade do suspeito, segundo ele, deve-se à demora em reunir provas conclusivas. “Ninguém pode ficar tanto tempo preso sem uma acusação formal. Na época, ainda não havia provas e ele foi liberado.”

Com vinte anos de experiência na área criminal, Goes Junior traça um panorama sombrio: “O que vejo é que, quando um crime não é solucionado de imediato, acaba caindo no esquecimento. Como a estrutura é pequena e tem muitos casos, a polícia sofre para dar conta dos flagrantes. O que já aconteceu acaba ficando.” Sua avaliação final é um duro golpe na inércia das autoridades: “Avalio como um descaso das autoridades. Uma pessoa íntegra e conhecida da sociedade de Castro foi brutalmente assassinada na rua principal da cidade e ninguém foi punido. A família não recebeu nenhuma notícia da polícia ou da justiça e já estamos fazendo um triste aniversário de seis anos dessa morte violenta que deveria sensibilizar as autoridades locais.”

O que diz a família

A dor da família se mistura à incredulidade e à sensação de abandono. Frederico Fiorillo, o filho caçula, desabafa: “Morosidade e o descaso é a tônica de tudo.” Ele questiona a falta de conclusão da investigação e o destino da perícia do celular do pai. “Seis anos já se passaram, né? No mesmo dia, um ano depois do assassinato do meu pai, nasceu a terceira neta dele, que ele nem conheceu, Ana Maria, minha filha. Então, nesses seis anos, tivemos isso de maravilhoso e, ao mesmo tempo, quase nenhuma resposta, principalmente por parte do judiciário.”

Frederico relembra a dedicação do pai à medicina, sua relevância social. “Ele era um médico de tanta gente… tinha uma função social muito relevante para a cidade… era um verdadeiro sacerdote.” A angústia pela falta de respostas é palpável: “Essa angústia permanente de não saber a motivação e o mandante do crime… um crime tão grave, nada justifica tirar a vida de uma pessoa. Ele foi executado sem qualquer chance de defesa, abatido pelas costas numa noite fria de junho.” A descrença na justiça brasileira é evidente em suas palavras: “A justiça criminal no Brasil não existe… aqui, se você sair do flagrante, se tiver bom advogado, réu primário, residência fixa, você já não vai preso, já responde em liberdade. Você já consegue enrolar”, lamenta.

Fernanda Fiorillo Klug, filha do médico, compartilha a mesma dor e indignação. “Para mim, é até difícil escrever esta palavra -assassinato do meu pai-. A crueldade humana é sem limites. Ele foi morto de forma covarde pelas costas, com um tiro na cabeça e sem a menor chance de defesa.” Ela recorda o pai ativo, saudável e um avô presente – uma das netas ele nem conheceu. “Faltou tempo e vida, e ele tinha muito mais a oferecer. Nossa família ficou despedaçada. Uma dor que nunca vai passar.” As mensagens de carinho e gratidão de antigos pacientes contrastam com a brutalidade do crime e a impunidade que se seguiu. “A vida do meu pai não valeu nada, ele virou uma estatística de um crime hediondo e até hoje sem solução. Estamos desamparados pelo Sistema Judiciário do Brasil, um país campeão em impunidade.” Apesar de tudo, Fernanda se apega a um fio de esperança: “Apesar dos anos terem passado, tenho esperança de ver o mandante atrás das grades. Espero viver para ver.”

Enquanto o tempo passa e a esperança diminui, a dor continua. O assassinato do médico Luiz Felipe Fiorillo, seis anos depois, permanece como uma ferida aberta na história de Castro. E, até aqui, sem justiça.

A Polícia Civil foi procurada para se pronunciar, mas até o fechamento da matéria não tivemos retorno.

Informações/PáginaUm
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